Sobre a arte de punir

Descrição

A substituição do suplício pela prisão é a substituição do corpo marcado e atormentado, pelo corpo dirigido e normalizado. A história do sistema punitivo é, antes de tudo, a história do corpo e sua relação com o poder político. Não há humanidade naquela nova anatomia político-punitiva, que emerge no Império do Brasil oitocentista, apenas a certeza de que a morte, como ápice do cerimonial penal do Antigo Regime, estabelecia um m, um limite. Na nova arte de punir, o corpo cadavérico frustra os interesses utilitaristas do liberalismo e escapa às malhas do poder. A vida emerge como uma preocupação política e a pena de morte é praticamente banida do Código Criminal. De agora em diante reina outra lógica: a do sofrimento calculado por toda a vida.