Revelando e Inventando Brasis: o cinema como dispositivo de invenção de mundos

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Este livro deriva de uma pesquisa que investiga o Projeto Revelando os Brasis (RB), criado em 2004 pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. O RB promove o contato com a linguagem audiovisual, ao democratizar o acesso e oferecer a possibilidade, a moradores de cidades de até 20 mil habitantes maiores de 18 anos, de contar histórias por meio do cinema. Tendo a noção de democracia cultural -- direito ao consumo e à fruição, mas também à criação e à produção de bens culturais -- na base das políticas públicas que lhe deram origem, o projeto contribuiu para a realização de 195 curtas metragens, entre documentários e ficções. Como colaboradora e, portanto, pesquisadora implicada no campo, escolhi a Cartografia como método de pesquisa-intervenção para pensar o RB em sua dimensão processual, de modo a analisar as diferentes camadas de efeitos (nos alunos, suas comunidades, no RB e suas redes e na própria pesquisa), que transcendem os próprios filmes. Para isso, relatei três experiências de realização: A Encomenda do Bicho Medonho, de André da Costa Pinto, A Sússia, de Lucrécia de Moura Dias e A Viagem de Seu Arlindo, de Sheila Altoé. Interessou-me acompanhar os processos que começam na transformação das histórias em roteiros, passando pela articulação dos alunos/diretores para a produção de seus curtas em suas comunidades, até a circulação dos filmes. O gesto cartográfico contou com pesquisa de campo, entrevistas, conversas, relatos, memórias, registros fotográficos e audiovisuais e uma multiplicidade de atores humanos e não humanos. Na singularidade de cada experiência, encontra-se um território comum que é o próprio RB em sua operação de revelar (um modo pelo qual se quer ser e ser visto), acompanhando processos de invenção.