Epa

Descrição

Receita de ebó

 Com pés descalços e cabeça firmada, cada página se transforma no ebó de alguma sexta-feira -santa, como todas as outras. Epá faz-se de uma reza ao chão e leva o leitor a passear, do antes até onde alcançar a mirada, pela estrada que a poesia ladrilha. E com a travessia por destino, o livro nos convida a reconhecer a paisagem com o olhar que o autor empresta a cada palavra que pincela com sua tinta de silêncio em cores (as do arco-íris, a quem interessar possa – ARROBOBOI!). O vazio vozeia o silêncio, e, em denúncias e confissões, de mandinga e coragem, Ramon encosta sua fé e suas crenças, não apenas as religiosas, mas as que dizem respeito à razão e as que não dizem nada, sobre o amor (porque o amor fala por si só) na construção do seu novo eu, o escritor. O recorte temporal, é óbvio, a eternidade deslocando a narrativa pelos mundos que o cerca e atravessa, reconhecendo a matéria que o compõe, mas agora, tendo aprendido a dividir dor de tesão, pois já é possível silenciar escrevendo, calar não mais. Epá abre portas, constrói casas e assenta suas firmezas em cada verso, mas é no inverso que a magia acontece, é de literatura a espada que vence escárnio e medo e de fé o escudo que ousa sacralizar a ressaca. O sábado finda a criação do divino em outras narrativas, mas nessa, o sábado retorna o eu-poeta onde cada dia se faz na esperança de que, próxima sexta, despir-se de todo peso e vestir-se de branco, fé e poesia, o salve. Maysa B. Buzzolo