Das correntes de ferro às correntes sanguíneas

Descrição

Correntes de ferro, entre outros, durante quase quatro séculos (1530-1888), foram instrumentos utilizados para garantir a permanência de seres humanos negros, submetidos desumanamente a trabalho escravo, aos domínios de seus senhores. Nesta obra, a ferramenta atua como um recurso figurativo provocativo que, aliado ao segundo elemento – Correntes Sanguíneas - expõe uma possível ligação entre a dura realidade dos africanos que aqui desembarcaram e a de seus descendentes, que, em sua maioria, permanecem imersos em subempregos, bairros periféricos, encarcerados injustamente ou mortos em operações policiais. “Das Correntes de Ferro às Correntes Sanguíneas” insinua a continuidade, a sucessão e a modernização das violações à dignidade humana em razão da cor, numa espécie de escravidão às escuras, cujo método violador, uma vez que proibidos os grilhões, baseia-se unicamente na opressão que causam as correntes sanguíneas de pelo menos 54% da população brasileira, por onde passa o sangue africano herdado de ancestrais que nunca tiveram sua dignidade reparada e que ainda carregam o peso de uma era de sombras, provocando as mais violentas situações de desigualdade. É, por assim dizer, uma provocação que expõe as falhas do Estado brasileiro quanto à promoção da igualdade racial e demonstra uma espécie de “prisão virtual”, proporcionada por questões circunstanciais ecoadas do império de poder que nasceu do regime escravocrata e do próprio modo pelo qual se deu sua abolição da escravatura, que acabou levando o País a um abismo racial.